quinta-feira, 2 de abril de 2009

Turismo e Religião



O turismo é considerado nos dias de hoje como uma importante fonte de desenvolvimento. A institucionalização do turismo está intimamente ligada às peregrinações, que ao longo do tempo deram origem ao aparecimento das pousadas, hospedarias na beira dos caminhos, povoados, e cidades, onde os peregrinos podiam pernoitar, descansar e dispor de alimentação, bebida e até mantimentos para a continuação da viagem.
O turismo religioso é compreendido como uma atividade que movimenta inúmeras pessoas em viagens por motivos de fé e devoção a algum santo. A sua prática realiza-se de diversas maneiras: as peregrinações aos locais sagrados, às festas religiosas que são celebradas periodicamente, os espetáculos, as representações teatrais de caráter religioso, e os congressos, encontros e seminários, ligados à evangelização.
Depois de algumas análises é possível observar que o segmento tem contribuído para o crescimento das economias locais. Fatores como hospedagem, comércio, alimentação e lazer, são diretamente afetados pelo fluxo turístico, implicando na utilização do espaço e no planejamento de infra-estrutura receptiva e organização econômica.
As viagens em busca de espaços próprios para as manifestações da fé envolvem pessoas de várias culturas e diferentes nacionalidades, em todo o mundo. De posse dessa realidade, a indústria do turismo intensificou o investimento nos centros de peregrinação através de ações diretas sobre a realidade local e do uso da mídia e do marketing para incentivar o fluxo de visitantes. A partir daí, algumas regiões começaram a investir em planejamento e obras para ampliar sua capacidade de recepção e proporcionar alternativas de lazer aos turistas.
Antigamente a peregrinação estava ligada ao sentido da comunhão com o sagrado e fazia da penitência uma forma de purificação para esse encontro. Era o período em que os fiéis dedicavam o tempo e o espaço da romaria fundamentalmente para jejuns, sacrifícios, orações, cantos religiosos, pagamento e realização de promessas. Mas as peregrinações acompanharam as mudanças dos tempos e se transformaram. O sentido da peregrinação foi reinterpretado, tanto pelas pessoas como pela indústria do turismo. A partir da atribuição de novos significados, adaptados a moderna realidade do consumo, os peregrinos passaram a utilizar o momento da peregrinação, antes destinado apenas às práticas religiosas, também como um momento de lazer.
As peregrinações assumem assim, um lugar de destaque no conceito de turismo religioso porque, como qualquer viajante dos outros destinos turísticos, os peregrinos são consumidores de bens e serviços, num movimento de fluxo praticamente ininterrupto. Ainda que determinados destinos sejam mais procurados em função de datas específicas, quando se realizam festas ou espetáculos de maior apelo de atração, as principais rotas da fé mantém um movimento turístico praticamente contínuo durante grande parte do ano.
Peregrinações e festas religiosas passam, então, a serem utilizadas pelo marketing turístico, incluídas no calendário de eventos oficiais de cada estado ou região, como um produto turístico de cunho cultural e religioso. Assim, as peregrinações se tornam uma dupla fonte geradora de renda, enquanto fornecedora de consumidores em potencial e como atrativo turístico em si. Embora o caráter comercial não elimine o elemento religioso, uma vez que a participação na peregrinação decorre de uma atitude de fé, as atividades paralelas às manifestações religiosas ganham nova dimensão, como forma de atrair mais visitantes. Potenciais fontes de diversão e prazer tornam-se um atrativo a mais no circuito da fé, para entreter o visitante, prolongar a sua estadia e estimular o consumo.
Nas classes sociais mais abastadas, e com melhor nível sócio-cultural, o turismo religioso é realizado com maiores investimentos e maior duração de tempo, estando quase sempre vinculado a outra atividade simultânea, seja para aproveitar férias, visita a familiares ou lazer cultural. O conforto e o planejamento são essenciais nesse tipo de peregrinação, uma vez que o peregrino possui recursos financeiros e culturais para estabelecer o roteiro e o gerenciamento do seu tempo. Nesse caso, a penitência adquire outro sentido, podendo ser encarada como uma obrigação do fiel de conhecer e aprofundar a sua fé, através da visita aos locais considerados sagrados.
Os romeiros menos abastados encontram no divertimento proporcionado pelas romarias religiosas, em geral realizadas sob a forma de caravanas, momentos de descanso, de quebra com o cotidiano, favorável ao contato familiar e social, além é claro do fator místico-religioso. Através da realização das peregrinações e da participação nas atividades paralelas que se desenvolvem em função delas, acaba por se concretizar uma oportunidade de divertimento para aqueles que não dispõem de tempo e recursos financeiros para outras formas de viagem de lazer. A prática do lazer proporcionada pelo turismo religioso nas camadas populares faz com que o entretenimento acabe por se igualar, ou até se sobrepor, ao caráter religioso.Em geral, as peregrinações se dirigem a um santuário ou local consagrado pela religião. Cada santuário tem uma história própria que traduz a interação da fé com a cultura daquele povo. O movimento das peregrinações pode variar de direção e intensidade ao longo do tempo e por diversos fatores de influência, que sempre estarão ligados direta ou indiretamente à história da região, ou mais recentemente aos apelos dos meios de comunicação.

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