segunda-feira, 6 de abril de 2009

Turismo rural pode ser opção em tempos de crise econômica

São Paulo - Descoberto na última década pelos visitantes estrangeiros e nacionais, o turismo rural foi o segmento do setor turístico que mais cresceu no Brasil desde então, com uma média de 20% ao ano. Segundo estimativa da Associação Brasileira de Turismo Rural (Abraturr), em 1994 haviam cerca de 400 empreendimentos rurais com atrativo turístico. Em 2008, já seriam cerca de 15 mil.
Mas o setor não vem atravessando uma boa fase, segundo o presidente da Abraturr, Carlos Solera. Proprietário de um empreendimento rural em Santa Catarina, ele recebeu apenas um grupo estrangeiro nos primeiros três meses deste ano. “Tínhamos uma média de três grupos por mês”. Solera atribui a diminuição da procura a dois fatores: crise econômica mundial, que afastou os estrangeiros, e o gargalo da comercialização com as agências de turismo.
“Nos últimos anos, as agências de turismo voltaram-se principalmente para os pacotes internacionais e de sol e praia. Mas agora o turista brasileiro está procurando opções mais baratas dentro do País. Pode ser uma boa hora para trabalharmos em parceria e oferecer diferenciais”, diz Solera.
Uma boa notícia para o setor foi divulgada recentemente no 31ª Encontro Comercial da Braztoa, em São Paulo. O lançamento da primeira operadora especializada em turismo rural do Brasil, a Brasil Rural, que nasceu depois de uma viagem de 16 empresários brasileiros ao norte de Portugal, este ano, no projeto Benchmarking em Turismo – Experiências Internacionais, uma parceria entre Sebrae, Braztoa, Embratur e Ministério do Turismo.
“Eu trabalho há muitos anos com turismo rural e sempre tive vontade de ter uma operadora. Em Portugal, tive a oportunidade de conhecer uma operadora portuguesa. Pude perceber na viagem que o Brasil tem grande potencial turístico no setor. Precisamos apenas nos profissionalizarmos”, disse Andréia Arantes, uma das criadoras da Brasil Rural.
A operadora nasceu com quatro produtos específicos que têm como compromisso expressar a qualidade de vida e respeito à natureza. “Queremos promover múltiplas experiências rurais no Brasil, com roteiros em 16 Estados brasileiros e em países como Portugal e Colômbia. Já estão prontos para começar a operar 13 roteiros no Brasil, fora os pacotes especiais, customizados, que podem ser contratados pelos clientes”, diz Andréia.
Os produtos se dividem em duas categorias. A primeira, 'Experiências', é constituida por momentos exclusivos - para indivíduos ou pequenos grupos - em que são propostas atividades como modelar o barro, fazer bonecas ou objetos em palha de milho ou participar de um piquenique à beira do rio. O 'Piquenique na Serra da Mantiqueira', por exemplo, custa apenas R$ 95,00, com seguro incluído.
A segunda categoria, 'Roteiros', subdivide-se em 'Naturais' e 'Natureza e Aventura', e contam com um número mínimo de participantes. A idéia é conhecer engenhos, pequenos sítios, quintas e haciendas para presenciar a produção do café, cana-de-açúcar, alimentos orgânicos, fazer cavalgadas e escaladas nas serras e montanhas, praticar arquearia e fazer passeios de bicicleta ou caminhadas.
Para Carlos Solera, a iniciativa da Brasil Rural chega na hora certa, já que o segmento passa agora por sua quarta fase, a da comercialização. “O desconhecimento não é só das agências, mas também das fazendas de turismo rural. Quem produz (empresário rural) na maioria das vezes não entende a função e trabalho dos atores da comercialização e dificilmente possui uma visão profissional do turismo. Tudo ainda é muito novo, mas gradativamente este sistema de compreensão vem crescendo”.
Das quase 15 mil fazendas que trabalham com turistas, 60% têm até 50 hectares, o que mostra a grande inserção de pequenos proprietários rurais em busca de diversificação para agregar novos valores a suas atividades tradicionais. O turismo rural, segundo o presidente da Abraturr, gera perto de 500 mil empregos diretos e indiretos no País. Destes, 35% são representados por mão-de-obra familiar e o restante por trabalhadores de origem local ou regional.
“Estes são dados importantes para que os prefeitos tomem consciência e façam políticas públicas voltadas a desenvolver o turismo em suas cidades, principalmente em regiões onde há grande concentração de empreendimentos rurais.
No próximo dia 6 de abril, Solera participa com outras 63 entidades da primeira reunião de 2009 do Conselho Nacional do Turismo. Na pauta, o corte de 85% do orçamento do Ministério do Turismo este ano.

Beth Matias - Agência Sebrae

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Tombamento de um patrimônio não impede a acessibilidade

Sempre costumo cobrar acessibilidade em todos os lugares que visito, e alguns deles apresentam a justificativa de ser um patrimônio tombado e não se poder fazer nada, pois o imóvel tem que ser preservado. Na verdade isso é mais uma desculpa, dentre as inúmeras que já existem, inventadas pela sociedade.
O pedido de tombamento de um bem de valor cultural, público ou privado pode ser feito por iniciativa de qualquer pessoa por um pedido que deve ser encaminhado ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), no caso de um tombamento federal. Também existem órgãos que tem a função de cuidar do patrimônio histórico em nível estadual e municipal. É incorreto chamar de tombamento a inclusão de um bem na lista de patrimônios da humanidade da UNESCO. A listagem pela UNESCO, consiste apenas numa classificação e reconhecimento do valor excepcional do sítio em questão, nos termos da Convenção do Patrimônio Mundial.
O tombamento implica em estabelecer regras para a propriedade, à medida que ele é protegido, você não pode fazer daquele imóvel o que quiser. Isso estabelece limites entre o desejo pessoal e o desejo coletivo. O tombamento não deve ser visto como uma medida que "engessa" e "paralisa" o local. Ele pode continuar crescendo, desde que os limites sejam respeitados. Através da Instrução Normativa nº 1 de 25 de Novembro de 2003, a presidência do IPHAN resolveu estabelecer diretrizes, critérios e recomendações para a promoção da acessibilidade. Este documento usa como referência básica a NBR9050 da ABNT e a Lei 10.098/2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, onde cita no artigo 25 diz que as disposições desta Lei aplicam-se aos edifícios ou imóveis declarados bens de interesse cultural ou de valor histórico-artístico, desde que as modificações necessárias observem as normas específicas reguladoras destes bens.
Assim, constata-se que os imóveis tombados também foram incluídos entre aqueles que devem sofrer adaptações. A restrição fica por conta das especificidades do bem.
O artigo 30 do Decreto 5.296/2004 dispõe sobre a acessibilidade aos Bens Culturais Imóveis, estabelecendo que as soluções destinadas à eliminação, redução ou superação de barreiras na promoção da acessibilidade a todos os bens culturais imóveis devem estar de acordo com o que estabelece a Instrução Normativa no 1 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, de 25 de novembro de 2003.
A Pinacoteca do Estado de São Paulo foi tombada em 1982 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT). Em março abriu ao público a galeria tátil de esculturas, onde o público com deficiência visual pode explorar e reconhecer as obras por meio do toque. Possui também recursos como piso e mapa tátil, audioguia, impressos em tinta e Braille, imagens de pinturas em tinta com linhas de contorno em relevo, além da descrição das obras. O Programa Educativo para Públicos Especiais (PEPE) desenvolveu recursos multissensoriais e lúdicos como maquetes visuais e táteis, reproduções de obras bidimensionais e tridimensionais feitas em resina acrílica e borracha texturizada, extratos sonoros relativos às obras, além de objetos e jogos tridimensionais baseados em obras originais selecionadas. Promovem cursos de ensino da arte na educação especial e inclusiva para a capacitação de educadores e profissionais das áreas de artes, museus e saúde.
Preservar um bem material é importante, mas preservar a dignidade humana é tão ou mais importante. Promover a acessibilidade e inclusão além de ser algo de grande valor para sociedade irá aumentar o fluxo de visitação nesses locais, e por consequência aumentar sua importância. Creio que isso seja tudo o que o lugar deseja, e a sociedade também.


*Ricardo Shimosakai
Agente de viagens e Consultor.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Turismo e Religião



O turismo é considerado nos dias de hoje como uma importante fonte de desenvolvimento. A institucionalização do turismo está intimamente ligada às peregrinações, que ao longo do tempo deram origem ao aparecimento das pousadas, hospedarias na beira dos caminhos, povoados, e cidades, onde os peregrinos podiam pernoitar, descansar e dispor de alimentação, bebida e até mantimentos para a continuação da viagem.
O turismo religioso é compreendido como uma atividade que movimenta inúmeras pessoas em viagens por motivos de fé e devoção a algum santo. A sua prática realiza-se de diversas maneiras: as peregrinações aos locais sagrados, às festas religiosas que são celebradas periodicamente, os espetáculos, as representações teatrais de caráter religioso, e os congressos, encontros e seminários, ligados à evangelização.
Depois de algumas análises é possível observar que o segmento tem contribuído para o crescimento das economias locais. Fatores como hospedagem, comércio, alimentação e lazer, são diretamente afetados pelo fluxo turístico, implicando na utilização do espaço e no planejamento de infra-estrutura receptiva e organização econômica.
As viagens em busca de espaços próprios para as manifestações da fé envolvem pessoas de várias culturas e diferentes nacionalidades, em todo o mundo. De posse dessa realidade, a indústria do turismo intensificou o investimento nos centros de peregrinação através de ações diretas sobre a realidade local e do uso da mídia e do marketing para incentivar o fluxo de visitantes. A partir daí, algumas regiões começaram a investir em planejamento e obras para ampliar sua capacidade de recepção e proporcionar alternativas de lazer aos turistas.
Antigamente a peregrinação estava ligada ao sentido da comunhão com o sagrado e fazia da penitência uma forma de purificação para esse encontro. Era o período em que os fiéis dedicavam o tempo e o espaço da romaria fundamentalmente para jejuns, sacrifícios, orações, cantos religiosos, pagamento e realização de promessas. Mas as peregrinações acompanharam as mudanças dos tempos e se transformaram. O sentido da peregrinação foi reinterpretado, tanto pelas pessoas como pela indústria do turismo. A partir da atribuição de novos significados, adaptados a moderna realidade do consumo, os peregrinos passaram a utilizar o momento da peregrinação, antes destinado apenas às práticas religiosas, também como um momento de lazer.
As peregrinações assumem assim, um lugar de destaque no conceito de turismo religioso porque, como qualquer viajante dos outros destinos turísticos, os peregrinos são consumidores de bens e serviços, num movimento de fluxo praticamente ininterrupto. Ainda que determinados destinos sejam mais procurados em função de datas específicas, quando se realizam festas ou espetáculos de maior apelo de atração, as principais rotas da fé mantém um movimento turístico praticamente contínuo durante grande parte do ano.
Peregrinações e festas religiosas passam, então, a serem utilizadas pelo marketing turístico, incluídas no calendário de eventos oficiais de cada estado ou região, como um produto turístico de cunho cultural e religioso. Assim, as peregrinações se tornam uma dupla fonte geradora de renda, enquanto fornecedora de consumidores em potencial e como atrativo turístico em si. Embora o caráter comercial não elimine o elemento religioso, uma vez que a participação na peregrinação decorre de uma atitude de fé, as atividades paralelas às manifestações religiosas ganham nova dimensão, como forma de atrair mais visitantes. Potenciais fontes de diversão e prazer tornam-se um atrativo a mais no circuito da fé, para entreter o visitante, prolongar a sua estadia e estimular o consumo.
Nas classes sociais mais abastadas, e com melhor nível sócio-cultural, o turismo religioso é realizado com maiores investimentos e maior duração de tempo, estando quase sempre vinculado a outra atividade simultânea, seja para aproveitar férias, visita a familiares ou lazer cultural. O conforto e o planejamento são essenciais nesse tipo de peregrinação, uma vez que o peregrino possui recursos financeiros e culturais para estabelecer o roteiro e o gerenciamento do seu tempo. Nesse caso, a penitência adquire outro sentido, podendo ser encarada como uma obrigação do fiel de conhecer e aprofundar a sua fé, através da visita aos locais considerados sagrados.
Os romeiros menos abastados encontram no divertimento proporcionado pelas romarias religiosas, em geral realizadas sob a forma de caravanas, momentos de descanso, de quebra com o cotidiano, favorável ao contato familiar e social, além é claro do fator místico-religioso. Através da realização das peregrinações e da participação nas atividades paralelas que se desenvolvem em função delas, acaba por se concretizar uma oportunidade de divertimento para aqueles que não dispõem de tempo e recursos financeiros para outras formas de viagem de lazer. A prática do lazer proporcionada pelo turismo religioso nas camadas populares faz com que o entretenimento acabe por se igualar, ou até se sobrepor, ao caráter religioso.Em geral, as peregrinações se dirigem a um santuário ou local consagrado pela religião. Cada santuário tem uma história própria que traduz a interação da fé com a cultura daquele povo. O movimento das peregrinações pode variar de direção e intensidade ao longo do tempo e por diversos fatores de influência, que sempre estarão ligados direta ou indiretamente à história da região, ou mais recentemente aos apelos dos meios de comunicação.